O que de fato tem valor, a minha vida e as pessoas que estão inteiramente ligadas a mim!
sábado, 14 de dezembro de 2013
Da leitura à vivência
Trabalhando histórias infantis com crianças,
adolescentes e idosos, pude perceber que nem todos possuem a leitura da palavra
escrita, das letras, e tão pouco sabem o que é um alfabeto..
Mas nesse olhar que lancei sobre as pessoas, percebi
também que possuem a leitura de mundo, precedida da vivência que tem do seu
mundo, do mundo que construíram através de sonhos, medos, desejos...
E então passei a me perguntar: o que tem mais
significado? O que lemos, ou que vivenciamos?
E com essa pergunta, passei a olhar com mais cuidado
para cada semente que eu estava plantando quando contava uma história ou quando
perguntava sobre a realidade de cada um.
As crianças, por exemplo, não sabiam ler o que
estava escrito no livro, mas sabiam imaginar o que estavam ouvindo... Percebi
que ficavam de olhos abertos, porém, apenas me ouviam, enquanto sua imaginação
ia longe, vivendo dentro da história e relacionando com o mundo que existia
ali, dentro do coração de cada criança. Notei que algumas delas criavam um
mundo totalmente fantasiado, enquanto outras transformavam rainhas em suas
mães, princesas em suas irmãs, colocando então, a leitura de mundo que fazem
sobre a leitura que eu estava fazendo.
Constatei então, que não importa o que seja dito,
contado ou apresentado para alguém, cada um tem a sua leitura de mundo.
Quando trabalhei com pessoas idosas, observei também
que muitas delas não tinham a habilidade de ler palavras, mas sabiam muito bem
ler o som das palavras, e sabiam imaginar perfeitamente o que estavam ouvindo.
Muitas delas associaram a imaginação com o real, com as suas vivências, afinal,
já tinham percorrido um grande caminho, já tinham visto as folhas brotarem,
secarem e caírem... Já haviam plantado sementes e colhido seus frutos, e agora,
já tinham uma grande leitura de tudo o que acontece ao seu redor. E com essa
leitura passaram a associar e interligar fantasia com realidade, imaginação com
sons, palavra lida e palavra vivenciada...
Paulo Freire foi muito feliz quando disse que A leitura de mundo precede a leitura da
palavra, e é exatamente isso que acontece. Primeiro é necessário ver o que
nos cerca, o que nos move, o que é significativo e o que é mecânico, para
depois, ler o que nos cerca, nos move, enfim, o que nos torna gente.
Nos dias de hoje está empregado muito valor no que
se lê nas palavras, mas antes de ler palavras, lê-se o mundo, e as palavras,
sem mundo, sem história, não fazem sentido algum para quem as lê.
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